'Fim do chocolate' pode ser oportunidade para a indústria brasileira

Divulgação: Assessoria de Comunicação Sindicafé ES

Além da melhoria na qualidade do produto, Brasil busca autossufiência na produção de cacau e pode voltar a ser um grande exportador da matéria-prima

POR MITCHEL DINIZ

Para as fabricantes de chocolates do Brasil, pode-se dizer que 2014 foi um período meio amargo. Dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate (Abicab), que engloba as maiores empresas do setor, apontam que seus associados devem fechar o ano com produção menor que a de 2013. De janeiro a setembro, essas empresas produziram 384 mil toneladas de chocolate, 8 mil a menos do que no mesmo intervalo do ano passado. “Enfrentamos um ano difícil”, admite Ubiracy Fonseca, vice-presidente de chocolate da Abicab. Mas ao contrário do que podem sugerir recentes previsões apocalípticas sobre o “fim” do chocolate, a queda de 2% não teria relação com escassez de matéria-prima, e sim com um “cenário econômico no Brasil muito desfavorável”, segundo Fonseca. “Somos um país bem posicionado para enfrentar o déficit de cacau no mundo”, garante.

Terceiro mercado mundial de chocolate, o Brasil tem “um potencial de crescimento gigantesco”, avalia o engenheiro agrônomo Lucas Cirillo, especialista em cacau e chocolates da Cacau Show. Segundo ele, apesar da posição elevada no ranking, o consumo por pessoa no país é, em média, de 2,9 quilos ao ano. “Um alemão consome 11,6 quilos e um australiano, que vive em um país tropical como o nosso, 4,5 quilos”, explica. Para o especialista, a participação de mercado do produto industrializado tende a diminuir, abrindo espaço para o crescimento dos chocolates finos e artesanais. “O consumidor está cada vez mais exigente, em uma constante busca por novas experiências de consumo e produtos mais sofisticados”, afirma.

Não é o fim. Queda de  2% na produção brasileira de chocolate não teria relação com escassez de matéria-prima, e sim com o momento econômico do país, segundo o vice-presidente da Abicab

[imagem406] Privilégio

Contando hoje com a presença dos principais players globais, como a Barry Callebaut, maior fabricante de chocolates do mundo, Mars, Hershey’s, Arcor, entre outras, os “chocólatras” brasileiros podem se considerar privilegiados. “Todos os grandes estão no Brasil. Nem nos Estados Unidos, nem na Europa, eles estão todos juntos em um mesmo país”, afirma Ernesto Harald, presidente da Chocolates Harald. Em 1891, a família de Ernesto, recém-chegada da Alemanha, fundou a Neugebauer, considerada a fabricante de chocolates mais antiga do país. O negócio foi vendido no início da década de 1980, quando a Harald surgiu. Hoje a empresa possui três fábricas, sendo uma na China, produz, em média, 76 mil toneladas de chocolate por ano e prevê faturar R$ 570 milhões em 2014. “Além de interessante, chocolate é um negócio muito bom”, brinca Ernesto.
Contudo, o empresário, parte da quarta geração de uma família de chocolateiros, reclama da queda na qualidade do produto brasileiro. “Há quinze anos, você comia um bombom e achava muito bom. 

Hoje você percebe que que esses chocolates já não tem mais a mesma qualidade de antigamente”, diz. Ernesto acredita que, por esse motivo, os importados ganham cada vez mais espaço, para atender a demanda dos que procuram por um “bom chocolate”. “Você encontra chocolate importado até na padaria da cidade do interior. Isso é totalmente sem sentido”, observa. O problema, segundo ele, está na qualidade da matéria-prima. A Harald adquire em média 23 mil toneladas de cacau por ano e uma parte ainda tímida das compras, algo em torno de 400 toneladas, é reservada ao produto tipo “fino”, que passa pelo processo de fermentação. A técnica rende ao produtor um prêmio de até 80% sobre o valor de mercado.

Fineza

“Cacau fino tende a crescer bastante aqui no Brasil, porque é uma maneira justa de encontrar uma saída para o produtor”, diz Ernesto Harald. Em termos quantitativos, a produção brasileira evolui. A última projeção de safra do IBGE para 2014 é de 269 mil toneladas de cacau. Se confirmada, a oferta nacional será 2,3% maior do que a de um ano atrás. Segundo o diretor-geral da Ceplac (Comissão Excecutiva do Plano da Lavoura Cacaueira), Helinton Rocha, o número contesta a tese de decadência da lavoura cacaueira no país. “O Brasil foi importador líquido de cacau a partir do final da década de 90, agora passa a ser potencial exportador líquido”, afirma.

De segundo maior produtor da fruta na década de 80, o país despencou no ranking sob o efeito devastador da vassoura-de-bruxa. Hoje, em quinto lugar na lista, almeja a autossuficiência. Atualmente são cerca de 60 mil produtores, em seis Estados, sendo que muitos ainda sofrem com sequelas deixadas pela doença, como a dificuldade de acesso ao crédito rural. Mas o diretor ressalta  que as metas são, sobretudo, qualitativas. “Não é o desafio de ser o maior produtor, mas de que o produto tenha qualidade”, diz Helinton Rocha.

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