Tática dos grandes compradores pressiona preços de café brasileiro

Os grandes compradores de café não estão com pressa de comprar, segundo relata mídia norte-americana. Estoques globais de café arábica estariam em seu nível mais alto em mais de dois anos. Junta-se a isto os argumentos de que demanda de café estaria abrandando devido à crise na Europa. Devido ao cenário, cafeicultores brasileiros estão segurando parte da colheita a fim de valorizar suas produções.

* The Wall Street Journal

Os cafeicultores brasileiros estão segurando boa parte de sua produção, à espera de preços mais justos. Mas os compradores estão testando sua paciência.

O café tem saído do Brasil, o maior exportador do mundo, de forma mais lenta do que o habitual este ano. O governo estima que a colheita anual de café, encerrada no mês passado, bateu um recorde, mas as exportações do país estão em queda este ano. O motivo é que os agricultores não estão satisfeitos com os preços, que em junho atingiram seu ponto mais baixo em dois anos.

Mas os grandes compradores de café, como a americana J.M. Smucker Co., dona da Folgers, uma das marcas mais vendidas nos Estados Unidos, não estão com pressa de comprar. Os estoques globais de grãos arábica, a cobiçada variedade usada em mesclas mais sofisticadas de café, estão em seu nível mais alto em mais de dois anos. Enquanto isso, a demanda de café está abrandando devido à crise na Europa e mais suprimentos são esperados para os próximos meses.

A situação contrasta com a de 2011, quando os torrefadores e empresas de alimentos tiveram que batalhar para garantir abastecimento em meio a uma escassez de grãos que levou os preços ao nível mais alto em 14 anos.

O resultado é um “cabo de guerra” entre compradores e vendedores, diz Héctor Galván, um corretor sênior da R.J. O’Brien Futures em Chicago. “O café está lá, mas não está se movendo.”

Torrefadoras que produzem a maior parte do café que acaba nas prateleiras dos supermercados do mundo são altamente dependentes de grãos brasileiros. Mas, mesmo com alguns cafeicultores retendo sua produção, não há sinais de que os estoques dessas empresas estejam se esgotando. “Nós temos oferta suficiente para atender à demanda de produção em todo o nosso portfólio de café”, disse um porta-voz da Smucker.

Operadores que antecipavam uma grande safra brasileira provocaram uma onda de vendas no primeiro semestre de 2012, tornando o café uma das commodities de pior desempenho.

A queda dos preços se refletiu nas prateleiras dos supermercados, beneficiando consumidores com produtos mais baratos.

A desvalorização do café foi um choque desagradável para agricultores que se acostumaram no ano passado com preços em níveis só vistos vários anos atrás. E muitos estão segurando parte da colheita em resposta.

Algns investidores dizem que o tempo está se esgotando para os agricultores brasileiros. Cafeicultores da Colômbia e América Central estão se preparando para a colheita, que acrescentará milhões de sacas de café ao mercado.

Bill Collard, presidente da Futures Management Group, uma corretora da Flórida, começou a apostar na queda dos preços do café quando os futuros chegaram a US$ 1,75 a libra na semana passada (uma saca de café tem 132,3 libras). “Há muita pressão de colheita”, diz Collard. “Serão as vendas de produtores” que colocarão um teto para as altas de preços.

Por ora, porém, os cafeicultores, como Diogo Dias Teixeira de Macedo, de 34 anos, se mantêm firmes. “Vendemos cerca de 20% da produção até agora”, disse Teixeira, que cultiva 220 hectares de café na serra paulista. “Normalmente, nesta época, nós teríamos vendido 50%.”

Os futuros de café subiram até 27% desde junho, quando chegaram ao ponto mais baixo em dois anos: US$ 1,4920 por libra. Os analistas e operadores atribuíram a alta, em parte, à relutância dos agricultores brasileiros em liberar a produção.

Os torrefadores de café do tipo gourmet costumavam ver os grãos brasileiros como um adendo, um produto básico de baixo custo utilizado para completar o sabor das variedades mais potentes. Mas o café do Brasil ganhou popularidade nos últimos anos à medida que sua qualidade melhorou. Começando com o contrato para entrega em março de 2013, alguns grãos de café brasileiro poderão ser usados para cumprir contratos futuros, um sinal de sua aceitação generalizada.

Teixeira pode se dar ao luxo de esperar, porque o fundo governamental Funcafé oferece empréstimos aos produtores para que eles não tenham de vender café de imediato para pagar suas contas.

É verdade que as colheitas na Colômbia e América Central poderiam colocar menos pressão sobre os preços do que preveem alguns operadores. “Estamos nos preparando para computar nos preços um déficit substancial” de café mundialmente, porque a colheita brasileira no próximo ano provavelmente será menor do que a deste ano, diz Shawn Hackett, presidente da firma de corretagem e consultoria Hackett Financial Advisors. O Brasil tem um ciclo bienal de café, com produções altas e baixas se alternando, e Hackett está apostando que os preços do café para entrega em dezembro vão subir e espera que chegarão a US$ 2 a libra no fim do ano.

Mas outros acreditam que a produção brasileira, cedo ou tarde, chegará aos armazéns do mundo, empurrando os preços para baixo. Quando a venda da produção da Colômbia e da América Central começar, os agricultores brasileiros que estão retendo seus estoques provavelmente também começarão a vender, prevê Spencer Patton, fundador da corretora americana Steel Vine Investments. “Não espero que essa jogada acabe dando bons resultados para os agricultores brasileiros que estão segurando suas colheitas.

As informações são do The Wall Street Journal, adaptadas pela Equipe CaféPoint.

Fonte: Portal Café POint