Receita devolverá R$ 16,9 bilhões a exportadoras em dois meses
Devolução de créditos a empresas do setor faz parte do Plano Brasil Maior; pagamento começará no fim deste mês.
Iuri Dantas
BRASÍLIA
A Receita Federal pretende solucionar uma pendência de décadas e injetar R$ 16,9 bilhões em empresas exportadoras nos próximos dois meses, como parte do Plano Brasil Maior, a política industrial de Dilma Rousseff. O dinheiro pertence aos exportadores, mas segue depositado no Tesouro na forma de créditos de PIS e Cofins, que nunca foram ressarcidos.
Os créditos devem aliviar o caixa de diversas empresas que apresentaram mais de 22 mil pedidos de ressarcimento. Segundo o Fisco, o pagamento deve começar no fim deste mês e será feito em até 60 dias.
O prazo se deve à exigência legal para que todas as empresas adotem a escrituração digital até o fim deste mês, tornando mais fácil o trabalho da Receita em apurar os benefícios tributários.
A restituição dos créditos estava prevista no Brasil Maior desde o seu lançamento, em agosto do ano passado, embora não fosse levada muito a sério pelo setor privado porque, desde o governo Fernando Henrique Cardoso, a União promete devolver esses recursos.
A diferença, dessa vez, foi o desenvolvimento de um software específico para que o contribuinte pessoa jurídica reclamasse os créditos. A falta do programa de computador foi a justificativa dada pela Receita durante anos para explicar por que nunca houve esse ressarcimento.
Emergência
Agora, o software já está em funcionamento. A idéia da Receita é tornar a devolução dos créditos imediata a partir de julho deste ano, conforme previsto na política industrial.
Segundo o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, o setor insiste na devolução dos créditos desde a eclosão da crise em 2008.
É uma medida emergencial. O crédito acumulado é um direito e qualquer demora no ressarcimento implica custos para os exportadores, afirmou.
A devolução de créditos faz parte das medidas tributárias do Plano Brasil Maior. Além da restituição, o governo também criou um mecanismo para devolver 3% do valor exportado em manufaturas para os industriais.
Há, ainda, a experiência piloto da desoneração da contribuição patronal sobre a folha de pagamento com alguns setores, que deve ser ampliada neste ano.
Regimes
Outra forma de atacar os altos impostos sem reformar o sistema tem sido a adoção de regimes especiais de tributação, para permitir a importação de insumos sem impostos ou fabricação de componentes sem pagamento de tributos.
O governo estuda, entre outros, incentivos específicos para a indústria química, infraestrutura, iluminação, computadores e semicondutores.
Para o ex-secretário de Política Econômica, Julio Gomes de Almeida, atual economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), falta ao governo uma agenda mais ambiciosa para competitividade dos exportadores, com a reforma de tributos, redução do custo da energia e do crédito. O governo vem agindo de forma relativamente lenta nessa área de tributos, mas essa medida vem em muito boa hora. Acho importante porque ajuda a situação dos exportadores. Falta incluir os Estados no processo. Tudo isso é importante, mas tem também a questão do ICMS.
Jornal O Estado de São Paulo – 27/03/2012 – Economia – Página B4
Fonte: Web Site CCCV