Indicações Geográficas: potencial ainda pouco explorado no país
Na teoria, era para ser a oportunidade de ouro para produtores rurais ampliarem seus negócios, mas na prática, a certificação por indicação geográfica tem despertado o interesse de pouquíssimos, que não deixam de ampliar seus negócios. Criada para dar mais status a produtos típicos do país, como é feito rotineiramente no exterior, a titulação é recente no Brasil e, devido à falta de conhecimento, muitos têm deixado de lado a busca pelo selo. Enquanto isso, aqueles que obtiveram o reconhecimento conseguem agregar mais valor para explorar mercados fora do estado de origem e, principalmente, no exterior.
O primeiro título concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) a um produto mineiro foi dado em 2005. O método como o café é produzido em 55 municípios do cerrado de Minas foi aprovado. À época, o reconhecimento era uma forma de o estrangeiro valorizar o produto típico, como é feito com o charuto cubano, vinho italiano, queijos franceses, holandeses, italianos e suíços e milhares de produtos mundo afora. Passada quase uma década, no entanto, somente 200 dos cerca de 5 mil produtores da região ( 4%) estampam o selo “Região do Cerrado Mineiro” no produto, segundo o Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (Caccer).
Um desses produtores é o empresário do Grupo Jatobá, Thiago Veloso da Motta Santos, responsável pela marca Sollo. De olho num mercado cada vez mais exigente, ele acredita que o selo é uma forma de ter um diferencial para o consumidor: a garantia de que aqueles grãos são mesmo produzidos com especificações próprias. No caso do café do cerrado, além de estar numa área demarcada, é necessário ser do tipo arábico; plantado em altitude superior a 800 metros; usar um armazém credenciado, respeitar leis ambientais e sociais e, por último, somar pelo menos 80 pontos na nota de qualidade da Associação Americana de Cafés Especiais. “É um selo extremamente importante para delimitar a região produtora. É uma região única no mundo. Já consagrada como elevadíssima qualidade dos cafés, assim como os vinhos portugueses e outros tantos produtos”, afirma o produtor, que, além do selo nacional, tem uma certificação internacional de sustentabilidade emitida pela Rede de Agricultura Sustentável e outra pela maior rede de cafeterias do mundo, a Starbucks.
A marca é exportada para os Estados Unidos, a Europa e o Japão e a tentativa é de abrir o mercado chinês. Segundo o empresário, devido à difusão de outros títulos no exterior – a China tem mais de 4 mil indicações geográficas, por exemplo -, o selo nacional se torna um diferencial para facilitar a abertura de portas, enquanto no Brasil clientes mais sofisticados procuram a certificação. Apesar de não saber quantificar quanto a mais o selo incrementou no valor do produto, o empresário reafirma que sem dúvida ele é um fator preponderante para a marca. “Principalmente para consumidores de cafés finos. A indicação geográfica é chave para conquistar esse público”, relata Thiago Veloso.
Argumento de venda
No caso do café, o fato de parte dos produtores não buscar a certificação não significa que o produto é de menor qualidade. Todos os cafeicultores da região têm uma porcentagem de café que atende todos os requisitos, segundo o diretor de Marketing do Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal, mas muitas vezes o produto é comercializado como uma commodity qualquer.
Ele afirma que, apesar de as associações incentivarem a procura do selo, se trata de um processo “muito novo” no Brasil, o que o torna pouco familiar para a maioria dos produtores e consumidores. “É uma ferramenta a mais para crescer o mercado quando a cooperativa estiver fazendo a negociação. O selo é uma argumentação de venda muito importante. Tem mercado inclusive que paga bom ágio”, afirma.
Entre os requisitos que levam o consumidor a buscar produtos certificados está a padronização. Com as regras de produção, segundo o gerente de Negócios do Super Nosso, Hamilton Almeida, é possível ter certeza de que se encontrará um produto de qualidade, livre de pragas e analisado por órgãos governamentais. “O exemplo mais próximo que temos do valor agregado são os produtos orgânicos, que seguem rigoroso método de produção”, afirma.
As informações são do Estado de Minas e do INPI, adaptadas pela Equipe CaféPoint.
Fonte: Portal Café Point.