O charme brasileiro em uma xícara de café
Cada vez mais o café brasileiro deixa de ser mera commodity para se tornar um produto com valor agregado, que atrai desde meros curiosos até paladares mais sofisticados. É o que mostrou a 7ª edição do Espaço Café Brasil – Feira Internacional do Café, que reúne toda a cadeia do setor cafeeiro e acontece até amanhã na Expo Center Norte.
Lá, o grande destaque foram produtores e marcas de cafés diferenciados (comumente conhecidos como gourmets ou especiais, produzidos a partir de grãos da variedade arábica), que investem tanto em produção quase artesanal, selecionada grão a grão, até em modernização tecnológica dos processos para conseguir o melhor sabor e aroma da bebida – e assim transformá-la em um produto com qualidade premium – em que o quilo pode chegar a R$ 120.
E não é por menos: dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês) apontam que, enquanto o consumo do café tradicional no mundo cresce de 1,5% a 2% ao ano, o dos cafés diferenciados aumenta entre 10% e 15%, segundo a diretora executiva da BSCA Vanúsia Nogueira (foto: Newton Santos/Hype). Apesar de os números do café tipo exportação ainda serem bastante robustos no País – US$ 8 bilhões em 2011, ou 20% do mercado mundial, sendo 23% de cafés diferenciados (cerca de US$ 2 bilhões) -, o consumo desse tipo de produto no Brasil vem amadurecendo e crescendo vertiginosamente, de acordo com Vanúsia, entre 5% e 10% ao ano.
Hoje, somos o segundo maior consumidor do mundo de café de um modo geral (o primeiro são os EUA), com a meta de chegar ao topo em 2015. Mas acredito que isso deve acontecer antes, já que, em 2011, enquanto os EUA consumiram 20 milhões de sacas, o Brasil consumiu 19,2 milhões. Estamos melhorando cada vez mais.
Para impulsionar cada vez mais esse mercado, produtores brasileiros desenvolveram desde embalagens diferenciadas, técnicas de fertilização e irrigação para manter a qualidade da safra ao longo do ano todo, colheita mecanizada seletiva (que regula a vibração das palhetas para selecionar os grãos prontos a serem colhidos), e até uma tecnologia da Embrapa Café que desenvolveu o café-cereja (o fruto em si) descascado (que demora menos para secar).
Apesar de perseguirem o mesmo objetivo – o melhor sabor e qualidade para os apreciadores de café – os produtores se desdobram, cada um a seu modo, para se destacar.
Seleção Ultravioleta – Exemplo disso é o Ateliê do Café, marca de cafés especiais com a qualidade da Fazenda Da Terra, que possui uma microtorrefação em Valinhos (SP). A empresa, que ampliou sua produção de diferenciados a partir dos anos 2000, com o crescimento das cafeterias, tem um laboratório de pesquisa para desenvolver blends especiais, com máquinas que selecionam o café grão a grão com luzes ultravioleta.
A empresa desenvolveu até uma embalagem metalizada, a Pentabox, fechada a vácuo com gás para manter as propriedades do café por até três anos, já que 90% da sua produção é exportada.
Ainda há uma grande quantidade de café ruim no mercado, mas aumentam cada vez mais os consumidores que procuram bons cafés. Por isso, mantemos a projeção de continuar a crescer entre 20% e 25% ao ano, disse a gerente de marketing Cris Assumpção.
Já a Terroá Cafés Especiais, de Piatã (BA), localizada na Chapada Diamantina, uma jovem produtora com um ano e meio de atividade, além da formação em agronomia de seus proprietários – Luiz Bittner e Seyran Toker – para desenvolver as melhores práticas de cultivo e produção, tem a vantagem da localização dos terrenos de altitude e com o clima do Cerrado para produzir o melhor café – pois tudo isso influencia no sabor e aroma da bebida.
É uma forma artesanal de criar sabores distintos e lotes finos e selecionados, disse Bittner, que também é o provador oficial e possui o mais alto grau de degustador (o Q-Grader) credenciado pelo Coffee Quality Institute (EUA).
A empresa mineira Café Gourmet Santa Mônica, por sua vez, considerada a precursora dos cafés gourmet no Brasil, ao contrário da maioria concentra 68% de sua produção no mercado interno.
O melhor que produzimos fica por aqui, afirmou o diretor comercial Júlio César Biscioni. Sem falar em blends e outros macetes para desenvolver sabores característicos, a marca se baseia em técnicas de plantio como a fertirrigação (sistema de gotejamento na plantação para garantir boa safra durante o ano todo) para produzir o café mais saboroso.
Após a torrefação e a prova, esse café tem que ser o mais cremoso possível, com sabor encorpado, ter doçura natural e baixo índice de amargor e acidez, disse. Essa técnica, completou Biscioni, utilizada pelas fazendas da marca de dois anos para cá, fez a produção dobrar e ampliou as projeções de crescimento para 15% a 20% ao mês até 2013.
A ideia é potencializar cada vez mais em todas as mídias a qualidade desse produto, para ampliar o número de xícaras vendidas para um mesmo cliente – como já está acontecendo em restaurantes e estabelecimentos parceiros com foco no segmento gourmet, disse.
Um mercado em expansão além do grão e pó – Os cafés diferenciados movimentam um amplo mercado. Exemplo disso é o aumento da procura pelo maquinário específico para degustar a bebida que representa 42% do interesse dos consumidores, segundo a organização do 7º Espaço Café Brasil.
Há desde máquinas computadorizadas de espresso que produzem 600 cafés por hora e custam R$ 60,5 mil – como a Strada, da marca italiana La Marzocco -, até coadores e prensas especialmente desenvolvidos para isso, como é o caso do coador Hario, trazido pela importadora Flavors.
A marca japonesa de filtros com sulcos em espiral, que chegou ao País em junho, mantém o fluxo rápido e contínuo da filtragem do café, para extrair todas as suas propriedades.
Acompanhamentos e aromatizantes para intensificar o sabor da bebida com notas de avelã, por exemplo, são outro nicho desse mercado, representada pela Da Vinci Gourmet, marca da irlandesa Kerry Ingredientes e Aromas.
O setor possui até um e-commerce especializado na venda de cafés diferenciados de vários tipos – de grãos a cápsulas, como as da italiana Illy -, além de produtos afins, como máquinas, utensílios, livros e presentes.
É a cafestore.com.br – que desde sua criação, no final de 2010, cresceu mais de 50% ao ano, puxada por um público formado tanto por leigos e especialistas, até escritórios e cafeterias, de acordo com o diretor Fernando Raso.
As informações são do Diário do Comércio, adaptadas pela Equipe CaféPoint.
Fonte: Portal Café Point