Mulheres do Café
Josiane Cotrim Macieira, 53 anos, natural de Manhumirim, Minas Gerais é da quarta geração de uma família de cafeicultores familiares. Estudou Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF e é mestre em Comunicação Política pela Dublin City University. Casada com o Embaixador do Brasil na Noruega com quem tem 2 filhas, já morou no Iraque, França, Irlanda, Suíça e Nicarágua onde conheceu o trabalho da IWCA – International Women`s Coffee Alliance, entidade que tem como objetivo estimular e reconhecer a participação das mulheres em todos os segmentos da cadeia produtiva do café. Apaixonada por café e sobretudo pelas pessoas envolvidas na produção, Josiane está atualmente engajada no desenvolvimento da IWCA no Brasil.
Em ocasião da realização do 7° Espaço Café Brasil, a Embaixadora da IWCA no Brasil concedeu entrevista ao CaféPoint, que teve a oportunidade de acompanhar sua participação ativa nos 3 dias de evento. Josiane nos contou toda vontade, luta e muito trabalho para elevar a condição das “Mulheres do Café” em meio ao cenário do mercado cafeeiro, algumas vezes pouco gentil a estas damas que compõem parte significativa deste setor.
CaféPoint: Conte-nos um pouco sobre a IWCA e suas metas?
Josiane Macieira: A IWCA – International Women`s Coffee Alliance nasceu há 10 anos do encontro de mulheres da indústria dos EUA e Canadá com produtoras da Nicarágua. Sua missão é dar poder às mulheres da comunidade do setor cafeeiro internacional, estimular e reconhecer a participação das mulheres em todos os segmentos da indústria do café, do grão à xícara.
Esta Aliança proporciona a infraestrutura necessária para cumprir com nosso objetivo. Constitui o veículo que facilita a transferência de conhecimento, o fortalecimento de uma rede de contatos, a execução de cursos de treinamento e a incorporação das mulheres na cadeia de abastecimento. Em suma, trata-se de “business”. Nós mulheres precisamos aprender a comercializar. Já provamos que sabemos produzir cafés de qualidade. Agora precisamos saber como vender esse produto bem.
Para isto, oferecemos treinamento, capacitação e desenvolvimento das lideranças. Em resumo, trata-se de preparar as mulheres para que façam negócios que beneficiem suas famílias. A IWCA tem o compromisso de desenvolver ações que gerem benefícios de integração e valorização das mulheres nos países produtores.
Diversos estudos demonstram que a melhoria do status das mulheres é uma das estratégias mais acertadas para confrontar os desafios que enfrentam as comunidades ao redor do mundo. As mulheres investem a maior parte de seus ganhos na educação, nutrição e saúde de seus filhos, conforme provam pesquisas realizadas.
CaféPoint: Desde quando a IWCA atua no Brasil?
J.M.: A Aliança funciona criando capítulos nos países, sobretudo nos produtores. No Brasil, a IWCA Brasil começou a ser criada em 2011 no 6° Espaço Café Brasil, quando realizou-se um seminário com mulheres de várias regiões produtoras. Isso foi possível graças ao apoio do Sebrae e na ocasião foi assinada a carta intenções para a IWCA Internacional, manifestando o desejo das brasileiras de fazerem parte da organização.
Um ano depois, durante o 7° Espaço Café Brasil, entre 04 e 06 de outubro, assinamos a Carta de Entendimento criando o capítulo brasileiro. Em um ano foram cumpridos todos os passos estipulados pelo Protocolo de Criação de Capítulos da IWCA. Elegeu-se uma diretoria que representa toda cadeia do negócio café, do grão à xícara, venceu-se as diversas etapas burocráticas e agora a Aliança existe de fato e de direito no maior produtor, exportador e segundo consumidor de café do mundo.
CaféPoint: Durante o 7° Espaço Café Brasil vocês assinaram oficialmente, como relatou, a Carta de Entendimento. Conte-nos um pouco sobre a importância deste ato.
J.M.: Criar um capítulo da IWCA no Brasil abre muitas oportunidades para as mulheres, não apenas no país, como internacionalmente. Como maior produtor e exportador de café verde do mundo, o Brasil não poderia ficar de fora dessa organização. Precisamos mostrar ao mundo que tem gente também envolvida na produção de cafés no Brasil. Inclusive, muitas mulheres que, aparentemente, são invisíveis. Com a oficialização deste ato, nossa missão no Brasil será dar voz e vez a todas as mulheres desse setor que emprega mão de obra como nenhum outro no país.
CaféPoint: Vocês tiveram uma forte participação neste evento, com palestras, sala de cupping, além de assinaturas expressivas. Estão satisfeitas com os resultados?
J.M.: Os resultados desse segundo encontro superaram nossas expectativas. Conseguimos trazer palestrantes para realizar duas manhãs de seminário. Todas voluntárias, vindas de Brasília, Rio de Janeiro, ninguém faltou. Nossa programação foi cumprida como previsto. O Sebrae apoiou o encontro financiando a ida de produtoras de diferentes regiões cristalizando uma parceria que está funcionando muito bem. As cooperativas também contribuíram. Por exemplo, a Coocaram de Rondônia enviou duas produtoras de Ji Paraná. Isso é para nós uma grande vitória, integrar no nosso encontro mulheres da região mais remota do país. Rondônia e seus produtores de café merecem mais atenção.
Além disso, o cupping que foi formatado para ser um treinamento para aquelas que nunca haviam participado de uma atividade assim, acabou atraindo a atenção de compradores e muitas conseguiram vender seus cafés por preços muito bons. Muito saber que já estamos fazendo a diferença no setor oferecendo mais oportunidades de comercialização. Isso só foi possível graças ao envolvimento de baristas e provadoras que estão trabalhando voluntária e espontaneamente nos eventos realizados pela IWCA Brasil.
CaféPoint: Como as mulheres produtoras do país podem conhecer melhor a IWCA e quais os métodos e procedimentos para integrar-se à associação?
J.M.: Estamos indo muito rápido. As mulheres que participaram do seminário em São Paulo irão replicar a experiência nas respectivas regiões e assim atingiremos a ponta da cadeia. Essa é a metodologia da IWCA “success through localization”. É assim que vamos levando a mensagem da Aliança e criando uma rede disseminadora de nossas ideias nos diversos eventos de café que ocorrem no país. Nossa intenção é realizar cursos de treinamento para mulheres durante os simpósios e encontros do setor, incluir a participação de palestrantes mulheres que possuem trabalhos científicos sobre café.
Normalmente não vemos muitas mulheres nos eventos de café, nem nas mesas de apresentação nem como palestrantes. E, no entanto, temos muitos trabalhos interessantes realizados por pesquisadoras que merecem ser divulgados. Por isso contamos com o apoio dos homens para que eles percebam que é preciso diversificar, homens e mulheres juntos. Como acontece nos países desenvolvidos. Os países onde homens e mulheres participam igualmente das decisões e das discussões possuem economias mais competitivas e um crescimento mais rápido, como demonstram estudos realizados.
E é por isso que a formação de capítulos da IWCA através de figuras organizacionais sem fins de lucro, legalmente estabelecidas de acordo com a ordem jurídica de cada um dos países produtores cria importantes conexões nacionais e internacionais entre as mulheres que pertencem à indústria cafeeira.
A IWCA tem um site www.womenincoffee.org e vamos ter um link onde a IWCA Brasil irá informar sobre suas atividades. Disponibilizamos também uma página no Facebook. Temos a convicção de que poderemos incluir digitalmente as mulheres do meio rural. Esse é o nosso desafio. Só assim conseguiremos contribuir para que os jovens no campo possam interagir com o mundo exterior.
A participação é aberta. Estamos concluindo nosso regimento interno para estabelecer algumas regras, mas em princípio toda e qualquer interação é bem-vinda, seja na nossa página no Facebook Iwca Brasil ou por email: iwcabrasil@groups.live.com.
CaféPoint: Quais os próximos passos da IWCA Brasil?
J.M.: O céu é o limite. Entendo que não seja fácil entender o que é a aliança, uma vez que não se trata de uma organização nos moldes convencionais. No mundo atual onde a única constante é a mudança, o funcionamento em rede virtual é uma coisa nova com a qual temos de nos habituar. E as mulheres do campo não podem se alijar desse processo.
Esperamos que o capítulo brasileiro da IWCA possa promover o reconhecimento do papel das produtoras na indústria e que os consumidores reconheçam os benefícios que proveem das mulheres à comunidade cafeeira global e esses respaldem os produtos que estão associados ao desenvolvimento social.
Entrevista concedida por Josiane Cotrim Macieira, Embaixadora da IWCA no Brasil, a André Sanches Neto, Coordenador de conteúdo e Analista de mercado do CaféPoint.
Fonte: Portal Café Point