Presença feminina cresce em importância e número nos cafezais

A mulher tem participado mais das decisões no campo, seja na lavoura ou na administração da fazenda, obtendo assim maior poder de influência para a condução dos negócios rurais. Especialistas e cooperativas mostram que a presença feminina cresce em importância e número nos cafezais – a ponto de existir uma organização mundial para a defesa dessas cafeicultoras.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU) observa o movimento de forma ampla e defende que a atuação da mulher é imprescindível, em todas as culturas, para se manter à tona a produção mundial de alimentos. Na cidade mineira de Guaxupé, a principal cooperativa da região (e que se apresenta como a maior cafeeira do mundo) exemplifica o caso. Os líderes da Cooxupé têm a percepção de que o sexo feminino é cada vez mais presente nos assuntos da empresa, que produz volumes próximos de quatro milhões de sacas de café por ano.

“Não só na agricultura, a mulher está ganhando uma presença marcante no campo do trabalho. No café, ela tem uma influência muito grande, em diversos aspectos, mas principalmente nas decisões financeiras”, diz o vice-presidente da cooperativa, Carlos Augusto de Melo.

Não só a mulher de Melo, mas também a filha e a nora estão ligadas ao emprego rural. Enquanto a esposa administra a fazenda de 300 hectares, a filha “cuida do RH [recursos humanos] da propriedade”. Já a nora está concluindo a universidade e descende de um cooperado da Cooxupé, portanto “vai conciliar profissão com fazenda”, conta Melo. “Mas a minha propriedade é de médio porte. Nas camadas mais simples, a mulher tem presença ainda mais forte”, afirma o representante.

A rotina em um cafezal envolve tarefas árduas, como a colheita e o empilhamento de sacas, que, para a produtora aposentada e dona de casa Marília Bueno, devem ser delegadas a homens. “O trabalho é de homem, mas a mulher pode ajudar. Ajudando o homem, já serve. Mas o trabalho pesado tem que ser dele”, diz ela, que ficou viúva há 51 anos e, desde então, passou a se dividir entre afazeres domésticos e “da roça”, com a ajuda de sete filhos (quatro do sexo feminino).

Cafeicultoras com orgulho
No ano passado, as produtoras ligadas à Cooxupé – elas representam cerca de 10% do número de cooperados – entregaram mais de 230 mil sacas do produto – aproximadamente, 7% do volume total -, movimentando R$ 4,16 milhões, de acordo com a cooperativa mineira.

A conselheira-administrativa da empresa, Maria Liney Fleury, diz que sente orgulho de ser cafeicultora. “Sabemos o que nos custa colocar cada saca de café na pilha e é com paixão e otimismo que levamos e ampliamos o nosso negócio”, declara.

A proatividade feminina chamou atenção dos líderes da Cooxupé durante a sua Feira de Máquinas, Implementos e Insumos Agrícolas (Femagri), em fevereiro deste ano. “A mulher discute o orçamento com o marido e decide se pode ou não comprar o equipamento”, diz Melo.

A Cooxupé organizou, na semana passada, em sua sede no sul de Minas Gerais, um encontro com 191 cooperadas – todas à frente das lavouras de café – para enfatizar a importância da mulher no campo. O evento baseou-se em palestras, análises de mercado e chances de negócio.

Agronegócio feminino
Dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) mostram que 23% das famílias brasileiras que, de alguma forma, estão ligadas ao agronegócio têm liderança feminina. A nível global, a FAO aponta, em estudo divulgado em 2010, que 70% das mulheres economicamente ativas trabalham no setor rural.

Porém, a contribuição das mulheres para a economia agropecuária e o seu papel na segurança alimentar ainda são pouco reconhecidos, na avaliação do órgão da ONU. O documento da FAO afirma que a mulher tem importância decisiva na produção global de alimentos, pois responde por mais da metade da comida que chega às mesas de todo o mundo.

Ainda no estudo, publicado há dois anos, constam os seguintes dados: no continente africano, as mulheres executam 80% dos trabalhos rurais; no Caribe e na África subsaariana, elas produzem até 80% dos gêneros alimentícios básicos; em quinze países da União Europeia, 20% das terras agrícolas estão em posse de pessoas do sexo feminino (ante 77% de proprietários homens e 3% de posse pública).

No Brasil, a presença da mulher no setor rural pode ser facilmente observada na faina diária das lavouras, nos laboratórios de pesquisa e nas universidades voltadas à agropecuária.

As informações são do DCI, adaptadas pela Equipe CaféPoint.
Fonte: Web CaféPoint